sexta-feira, 22 de abril de 2011

Série "Entrevista": Silvio Sarmento - II

Página B-4, domingo 01/08/93 - Gazeta de Alagoas.


Luiz Nogueira(*)


Assisti, pesaroso, ao espetáculo teatral O Despertar da Primavera. Não por conta do grupo que o apresentou, composto de jovens apaixonados pela arte teatral, mas pelas condições nas quais o fato vem acontecendo: o espaço de um supermercado falido, de nome “Balaio”, na rua Comendador Leão. Perplexo, vi um cenário (pensado pelo Ênio Lins) bem elaborado, bem iluminado, e um grupo de jovens esbanjando amor pela arte teatral. Mas vi, (ouvi, é o termo) uma condição acústica do ambiente que compromete (por vezes) a fala dos jovens atores. Sem contar as acomodações, pouco elogiáveis. O espaço dispõe de um bom estacionamento.

Mas fiquei extremamente satisfeito. E até pediria para que as pessoas prestigiassem, nas próximas apresentações, aquele grupo de jovens que lutam, titanicamente, para que a cidade ainda se lembre de que o teatro existe e é uma atividade salutar.

Mas fiquei sem entender o seguinte: porque o grupo não está realizando  as apresentações no Teatro de Arena Ségio Cardoso, recém inaugurado. No Teatro Deodoro, nem pensar: ele está abandonado desde que o meu amigo Bráulio leite se aposentou...

Tenho visto outras atividades teatrais em “espaços alternativos” ora no auditório e ora num velho circo (aos pedaços) do estacionamento, ambos na antiga Reitoria, na praça Sinimbu. O problema tem sido o mesmo: os jovens não contam com patrocínios nem acomodações que permitam a um “crítico teatral” avaliar-lhes os talentos, o que é péssimo e capaz de fazer morrer muitas vocações artísticas. Se por acaso algum patrocínio acontece é sempre abaixo das suas necessidades com vistas a um bom espetáculo, o que é terrível, desmotivador e até mesmo cruel...

De resto este é o quadro nacional no tocante ao que se chama cultura. Mesmo a educação, que é obrigatória (a cultura também o é na Constituição) conhece os seus dias mais negros, basta que se examinem as greves, os baixos salários, a não reciclagem dos professores e outras tantas heresias...

Somente a juventude desse grupo de jovens atores se arriscaria a tão dura tarefa: a de enfrentar condições adversas para nos dar uma lição de que as coisas ainda são possíveis. Felizmente eles existem. E nos transmitem uma lição inesquecível, numa fala que não está no texto da peça: “Estamos e estaremos aqui. Sempre. Mesmo com o risco de comprometermos o nosso talento, ao trabalharmos nas condições mais adversas, porque, sabemos, o nosso maior talento (nestas horas difíceis por que passa a cultura nacional) é a nossa ousadia. Ai de nós se não fôssemos ousados!...

Sinto-me jovem, outra vez, em que me pesem os anos perdidos em lutas e clamores gritados a todos os pulmões contra a insensibilidade dos governantes com relação à cultura e à arte.

Mais calmo chego a pensar: “Quem sabe essa juventude é diferente da minha e conseguirá sensibilizar os novos dirigentes da Nação?”

Mas concluo(entristecido): “Se os governantes não ouvirem o clamor e o esforço daqules jovens permaneceremos nas trevas...”

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